TEMA
Perspectiva religiosa no Corpo de Bombeiros.
JUSTIFICATIVA
- Entendimento do pluralismo religioso dentro das mais diversas esferas da sociedade, a partir de um grupo determinado;
- Aprofundamento da concepção religiosa do grupo pesquisado, tendo em vista o trabalho realizado na comunidade;
- Conhecer a dimensão de religiosidade, de limitação de sentido da vida, de realização pessoal e coletivo
- Que contribuições o grupo pode dar a sociedade no aspecto religioso.
PROBLEMA CENTRAL
Como se manifesta o fenômeno religioso no corpo de bombeiros em Curitibanos no ano de 1998.
OBJETIVOS
- Compreender o sentimento religioso que envolve um grupo de profissionais que trabalham com a vida e com a morte;
- Entender como se dá a manifestação religiosa no referido grupo diante das tragédias vivenciadas.
APRESENTAÇÃO
O ser humano por natureza busca superar-se, buscar sentido para sua vida; então, procura de várias maneiras esta superação que ocorre através de sua manifestação religiosa. Buscar a religiosidade é uma característica do ser humano em qualquer época, mas que se manifesta de maneira diversa, independente da situação social.
METODOLOGIA
Depois de fazer leitura sobre o assunto vamos realizar uma pesquisa de campo com os bombeiros, através de um questionário em anexo.
QUESTIONÁRIO
1 - Nome, idade e grau de instrução.
2 - O que o levou a escolher esta profissão?
2.1 - Quantas horas trabalha por dia?
2.2 - O que faz nas horas de folga?
3 - Como se dá o envolvimento religioso em sua comunidade de fé, tendo em vista o trabalho que realiza?
4 - O que é mais importante na sua vida, o que dá mais sentido, mais realização profissional?
5 - O que é a morte para você? O que acha que acontece após a morte?
6 - Você já sentiu que a sua presença salvou a vida de alguém? E quando não conseguiu, o que sentiu?
7 - O que você acha das vários situações que presenciou realizando seu trabalho?
8 - O que mais te impressiona ao imaginar a virada do milênio?
9 - Falando de futuro, qual o teu sonho, o que espera realizar?
1 INTRODUÇÃO
Como se dá o fenômeno religioso, como transcende a vida irradiada e imanada num grupo que trabalha defendendo a vida nas mais diversas instâncias da sociedade. Como se observa a religiosidade e a espiritualidade, no atendimento aos seres humanos que precisam do trabalho do corpo de bombeiros; o que é mais importante nesta hora: pensar em Deus?, manter o sangue frio?, deixar levar-se pelas emoções? Como se desenvolve o conhecimento religioso que lhe possibilite interferir no meio em que vive e em si próprio.
2 O CORPO DE BOMBEIROS
Desde o seu surgimento, o ser humano tem demonstrado tendências fortes à busca de explicações para os fenômenos ocorridos na natureza, criando assim uma ligação com um ser sobrenatural de onde procura extrair todas as respostas para suas inquietações e interrogações, surgindo assim o fenômeno religioso, este, que por sua vez se manifesta das mais diversas formas, nos mais diversos lugares e povos, conforme as crenças e culturas destes.
Com o surgimento de novas formas de vida ou novos modos de viver, o próprio aprimoramento da sociedade, o evoluir próprio do ser humano e das próprias ciências, o fenômeno religioso foi tendo diferentes interpretações.
O processo de evolução cultural fez com que o homem mudasse seu próprio comportamento religioso, frente a diversidade religiosa e com isso teve uma estruturação de vida frente ao transcendente de forma muito diferenciada do ser humano primitivo, que adorava coisas da natureza, inventava mitos e deuses, ídolos, para explicar a própria estruturação da sociedade em que vivia.
Vivemos num mundo completamente diferente: plural, globalizado e diverso, onde com todas as dificuldades encontradas ainda tentamos explicar alguns fatos como se fossem coisas do além.
O mundo mudou, a natureza continua sofrendo os desmandos do homem, que tenta buscar explicação para seu próprio ser, para sua vida, a existência da vida e para a continuação da vida. É neste contexto que entra o fenômeno religioso.
O homem atual é incapaz de sobreviver sem uma ligação constante com o sobrenatural, imanente ou transcendente, para explicar-se dentro de uma pluralidade social, cultural, econômica, política, religiosa, ...
Todos os grupos existentes dentro da sociedade manifestam direta ou indiretamente o fenômeno religioso.
Dentro de todas essas perspectivas encaixa-se o grupo do corpo de bombeiros do 2º Batalhão de Bombeiro Militar em Curitibanos, com 86 membros, dos quais 17 fizeram parte de uma pesquisa sobre o fenômeno religioso. Os entrevistados com faixa etária entre 25 e 35 anos, com escolaridade entre 1º e 3º graus, fizeram esta opção profissional, alguns por falta de oportunidades no campo de trabalho e outros por sentirem-se chamados a esta vocação, trabalhando 8 horas diárias.
Com suas formas e características próprias têm um modo especial de manifestar o sentimento sobre-humano, o sentimento religioso, que acontece de forma indireta , pois ao colocar sua vida à disposição do bem de uma determinada sociedade, o mesmo se dá de forma transcendental sem esperar recompensas pelo trabalho realizado.
Uma análise interessante sobre o corpo de bombeiros e seu fenômeno religioso é o desprendimento total na ação salvífica realizada pelos mesmos às pessoas, sem que haja interesses econômicos, e sim a gratificação pelo reconhecimento do trabalho prestado.
A motivação maior no desempenho de suas funções é saber que através der seu trabalho, agindo em defesa da vida, mesmo que não sejam atuantes em suas comunidades de fé , existe a presença constante do transcendente emanado em seus gestos e atitudes.
Suas emoções transcendem, o fenômeno religioso se faz presente, o homem adquire uma força especial, muito grande, quando envolve-se no seu cotidiano. As emoções se fazem presentes quando o desespero, a dor, a angústia, o pânico, a morte, a incerteza do que pode vir é presenciada, por ver outros seres humanos dotados dos mesmos sentimentos em situações desesperadoras, aguardando a sua ajuda.
Neste momento é difícil controlar as emoções, mas se faz necessário agir com precisão e muitas vezes com frieza, principalmente quando deparam-se com situações em que estão envolvidas pessoas próximas ou crianças, pois crianças são seres inocentes e ao perderem a vida deixam de realizar projetos que poderiam ser grandiosos para a humanidade.
A morte, algo inexplicável, que foge do controle do ser humano, é preocupante, estranha; não se pode acreditar infinitamente que haja algo além da morte; mas, que se espera que a morte não seja um fim, e sim uma esperança de eternidade. Existe uma misticidade muito grande em relação ao assunto abordado, mesmo existindo diversas concepções.
Quando o grupo pesquisado se vê diante da morte, pensa no porquê das coisas, no valor da vida, na alegria de se poder evitar as coisas ruins e na impotência diante de uma tragédia do inevitável, assim como é inevitável a virada do milênio.
A expectativa da virada do milênio é que grandes mudanças aconteçam no campo econômico, social, político, religioso, mas as mudanças não acontecem radicalmente , é um processo lento, que vem se preparando gradativamente, trazendo com isso a insegurança, o medo, a incerteza. A preocupação com relação a vida e a sobrevivência e novos valores no futuro é muito grande, porém é preciso acreditar que o mundo foi criado por um ser superior ao homem, que continuará tomando conta de tudo que criou, mesmo depois da virada do milênio. O homem jamais vai conseguir superar Deus e a tecnologia nunca vai poder alcançar os poderes de Deus.
Pode pensar-se que a virada do milênio seja um ano a mais no calendário, mas resiste a esperança de que se forme uma sociedade justa, fraterna e igualitária.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fenômeno religioso dos bombeiros mesmo não acontecendo de maneira explícita, freqüentando a igreja, rezando diariamente, acontece e de maneira especial quando se preocupam com a vida de seres humanos e o bem comum de uma sociedade.
Endendeu-se que o fenômeno religioso emanado dessa maneira é tão importante quanto os outros que participam ativamente em suas comunidades de fé.
ANEXO 1
CORPO DE BOMBEIROS
Não se tem data da fundação da organização. Em 27 a.C. o imperador Augusto formou um grupo de vigilis que patrulhavam as ruas para impedir incêndios e para policiar a cidade. Sabe-se muito pouco sobre a organização na Europa, até o grande incêndio de 1666 em Londres, que consumiu 13.200 construções.
CORPO DE BOMBEIROS NO BRASIL
- corpo de bombeiros provisório da corte, criado em 02 de julho de 1856;
- em 1865 foi fornecida a primeira bomba a vapor à instituição;
- em 1880 ao grupo passou a ter organização militar;
- em 1913 a tração animal das viaturas, adotada em 1870 foi substituída pela mecânica .
Além das atribuições definidas em lei, incumbe também a execução de atividades de defesa civil (vários tipos de incêndio, inspeção em edifícios públicos, socorrerem pessoas em vários tipos de emergências, retirar as pessoas presas nas ferragens após acidente de carro, de trem ou de avião, socorrer vítimas de desabamento, enchentes, etc.
CORPO DE BOMBEIROS EM SANTA CATARINA
- teve sua criação através da promulgação da lei 1137 de 30 de setembro de 1917;
- a lei que criava o corpo de bombeiros foi sancionada em 16 de setembro de 1919;
- deu-se em 02 de outubro a primeira ocorrência atendida pela guarnição da Seção do Corpo de Bombeiros.
Hoje o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar conta com 28 organizações de Bombeiros Militar, distribuídas no Estado e possui um efetivo de 1873 homens para o atendimento da população catarinense.
ANEXO 2
PATRONO DOS BOMBEIROS
O Corpo de Bombeiros é uma instituição milenar internacional, tendo o dia 04 de maio consagrado ao patrono e protetor dos bombeiros do mundo inteiro.
São incontáveis vidas de heróis anônimos ceifadas no afã de salvar o bem maior de seu irmão, que é a vida.
Floriano, Mártir que deu a vida pela fé e em prol do seu semelhante, na ânsia de salvar bens e principalmente vidas, é venerado em todo o mundo particularmente nas regiões da Baviera e da Áustria. Era militar, representado no estilo romano antigo, tendo na mão uma lança e uma bandeira desfraldada. Assim sua imagem é encontrada nas igrejas do estilo barroco e na maioria das casas particulares. Florirão tinha um verdadeiro sentido de proteção contra incêndio, saía de casa em casa, família em família orientando as pessoas do risco que o fogo oferecia a estes. Era um verdadeiro "bombeiro de rua".
Florirão viveu no tempo do imperador Deocleciano, no século III. Sendo um cristão, o cristianismo teve a propagação em vastas colônias romanas. Por não seguirem a ordem do imperador para perseguir os cristãos muitos soldados foram condenados à morte, entre eles Floriano. Foram condenados a serem precipitados no Rio Ens, com uma pedra amarrada no pescoço. O corpo de Floriano foi resgatado do fundo do rio por gente que tinham-no como protetor contra incêndio, e o sepultaram honrosamente onde mais tarde foi construído o Convento Agostiniano que lhe perpetuaram a gloriosa memória.
ANEXO III
SER BOMBEIRO
Não há para nós neste mundo ambição maior do que ser Bombeiro. Essa é uma posição que, para os mais desavisados, poderá parecer modéstia. Nós porém, familiarizados com as tarefas dos Bombeiros, acreditamos ser esta uma nobre vocação. Empehamo-nos em preservar da destruição as riquezas deste mundo.
Mas, acima de tudo, nosso maior orgulho é o esforço para salvar a vida humana, criação do próprio Deus. A nobreza de nossa ocupação nos apaixona, estimulando-nos a atos de coragem e até mesmo ao sacrifício supremo. Estas considerações podem não sensibilizar a alguns, mas para nós são suficientes para satisfazer plenamente nossa ambição.
Edward F. Crocker
Chefe do Departamento contra incêndio de Nova York - 1913
ANEXO IV
ORAÇÃO DO BOMBEIRO
Toma-me, Senhor, por instrumento de tua misericórdia. Faze tuas, minhas mãos e orienta meus passos, para que eu possa levar, no momento preciso, a quantos estejam em perigo, o ansiado salvamento. Multiplica, como fizestes com os pães e os peixes, meu vigor físico e minha agilidade. Faze-me potente, para resgatar da morte os que a ela se entregaram. Abençoa a minha boca para que eu possa soprar, no peito dos moribundos, o alento vital que lhes foge. Faze-me paciente, perseverante, inteligente e abnegado. Ensina-me a amar o próximo mais ainda que a mim mesmo, para que eu nunca falhe no cumprimento de meus deveres de Bombeiro Militar. Dá-me sobretudo Senhor, total desprendimento para que eu jamais hesite no ato de salvar, em sacrificar pelo meu semelhante minha própria vida.
ANEXO V
MANDAMENTOS E FUNÇÃO ESPIRITUAL DOS BOMBEIROS
I - Nunca te esqueças que envergas uma farda que vigia teus atos e que te condena se não a respeitares;
II - No momento de perigo, esquece a tua família, a ti próprio e põe a frente de teus olhos a nossa divisa "servir";
III - Sendo um inimigo que precisar de ti, apressa os teus passos e abre ainda mais o teu coração;
IV - Recorda-te que és o verdadeiro amigo, que aparece enquanto os outros fogem e, por isso, não te demores;
V - Não frequentes lugares que manchem tua farda, lembra-te de que há nódoas que nunca se apagam;
VI - Onde estiver um bombeiro, deve estar sempre um amigo dos animais, um amparo dos fracos, um protetor das crianças, dos idosos, das mulheres, dos que precisam, grandes e pequenos;
VII - Traz sempre na idéia esta palavra: "disciplina". As suas letras constituem todo o alfabeto do bombeiro;
VIII - A farda deve estar tão limpa quanto a consciência. Quem as trás sujas não pode e não deve ser bombeiro;
IX - Um camarada é um irmão. Abraça-o com tua lealdade, porque ele sofre as tuas dores e vive as tuas alegrias;
X - Hás muitos sistemas, doutrinários, partidários, seitas e dogmas. Para o bombeiro, só há uma política, uma religião, uma ideologia: "a humanidade".
ANEXO VI
SOLDADO DO FOGO
Luzes, chama, fumaça,
grito e desolação.
Sirenes que cortam os ares,
ruídos de caminhões.
Espanto!
Pânico na escuridão.
São mangueiras que se arrastam
como serpentes que buscam
as labaredas fumegantes
é a bravura que caminha
sem hesitação,
é a batalha que começa,
batalha - destruição.
Silencia das chamas
o crepitar infernal.
As sirenes agora
acompanham o bravo
que volta ao seu posto
de vigília constante,
com o suor no rosto,
as roupas manchadas, molhadas,
no cáqui rasgado
marcas de carção.
São heróis que retornaram
sem festas ou glórias,
simplesmente bombeiros.
Foi cumprida a missão.
Ten. Cel. PM Antônio Manoel da Silveira
BIBLIOGRAFIA
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SILVEIRA, Antônio Manoel da. Prevenção, combate a incêndio e salvamento em edifício. Edição Especial. Santa Catarina, 1989.
CASTIÑEIRA, Angel. A experiência de Deus na pós-modernidade. Petrópolis: Vozes, 1997.
GUARESCHI, Pedrinho A. Sociologia da prática social. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1995
LIMA, Délcio Monteiro de. Os demônios descem do norte. 4 ed. Belo Horizonte: Francisco Alves, 1987 (?).
KOINONIA. Presença Ecumênica e Serviço.
MARX, Karl. A ideologia alemã. 5 ed. São Paulo: Hucitec, 1986.
ORO, Ari Pedro e STEIL, Carlos Alberto (orgs.) Globalização e Religião. Petrópolis: Vozes, 1997.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1984.
GAIDIZINSKI, Areti M, CARMINATI, Fábia L. L. Metodologia do trabalho científico: conceitos preliminares, estratégias e ações, diretrizes para a elaboração do trabalho científico na graduação. Criciúma: Gráfica Líder, 1995. Coleção estudos. Metodologia Científica; 01.
Quando pensávamos em fazer a pesquisa, parecia inócuo esta abordagem. Depois de realizá-la foi possível perceber que a manifestação do sagrado está na prória existência, que a defesa da vida em perigo é o que os bombeiros chamam de religiosidade.
ResponderExcluirParabéns por postar este artigo.
Professora Rosangela Maria Baldessar
Salve!!!
ResponderExcluirCom certeza, a religiosidade e a manifestação do sagrado se expressam de várias formas, dentre elas a defesa incondicional da vida.
Obrigado.
Paz e luz sempre...