AMIGOS DO PROFESSOR ZÉ WILSON

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A MODERNIDADE, O USO DA RAZÃO E O ESTADO MODERNO

A modernidade centrou o uso da ciência e da técnica através da razão, tendo como suporte o sujeito, além de que colocaram em pauta os movimentos emancipatórios. Na história e nas correntes historiográficas do século XVIII, XIX e início do XX as rupturas introduzidas pelo Renascimento e Iluminismo levantaram discussões acerca inclusive da cientificidade da História (seu estatuto) e seu movimento (qual o papel da história nos projetos emancipatórios). Com base nisto, dissertaremos a respeito do contexto histórico da modernidade, a circularidade das idéias de Newton, Darwin e Kepler e sobre a história enquanto disciplina e o papel da mesma na construção do Estado-Nação.
E é nesse contexto ainda, diante dos três estados do positivismo proposto por Comte, que buscaremos a circularidade das idéias de Newton e Darwin, onde problematizaremos como esta idéia é abarcada pela história e, por fim, então, explicaremos a crítica de Machado de Assis, através do livro “O Alienista” ao método científico da época.
A modernidade é um conjunto de experiências compartilhadas por homens e mulheres, de tempo e espaço a respeito da modernização. A modernidade é ambígua, ou seja, pode ser desejada e rechaçada.
Na modernidade há uma ruptura com o mundo feudal, tendo agora um pensamento diferente, ou seja, novas idéias para política, economia, sociedade e cultura, o que poderíamos dizer que através do iluminismo surgem novos conceitos sobre a sociedade em geral.
Os pensadores da época se utilizam do conhecimento de outros para que possam desenvolver suas idéias ou aceitando-os ou refutando-os. Há uma complementação de idéias entre Newton (com sua teoria da gravidade), Kepler (estudo sobre os corpos celestiais e órbita dos planetas), Darwin (evolução das espécies) e Spencer (evolução do indivíduo).
Acreditava-se que a emancipação humana se daria através da ciência e da técnica, através do uso da razão. Há a preocupação de como se pode chegar a conhecer o objeto em estudo, separando-o do sujeito. Há a divisão das ciências, dos tipos de conhecimento, em campos de estudo separados.
Kant faz uma junção dessas correntes dizendo que só o conhecimento sensível não basta, diz que há uma razão universal que regula a natureza e a vida do homem, que define o homem, que devemos fazer uso público da razão, como sinal de conhecimento e esclarecimento, atingindo a maioridade; que é da natureza humana se utilizar da razão e é natural que existam leis que regulem os fenômenos humanos.
A razão evolui e vai chegar ao Estado; a razão instrumental é ligada ao poder e utilizada para dominar os outros; temos agora o uso público da razão.
Através de documentos vamos ter revelada a história do passado e o que faz surgir a Nação/Estado é o passado em comum de um povo; que todos teriam passado igual e o papel da história é fazer conhecer esse passado, ou seja, uma história linear.
Segundo o Positivismo, as ciências humanas têm que ter o mesmo espírito das ciências naturais da época, ou seja, as ciências humanas têm que ter leis que regem os fenômenos sociais.
Positivismo é uma lei, um método, uma filosofia extremamente conservadora. Comte imagina um mundo governado através de decretos do Executivo, ou seja, uma certa ditadura; quer que o estado intervenha na economia; que haja mudanças sociais aos poucos e que somente a indústria seria capaz de levar a modernização da sociedade; que os socialistas precisam da ordem positivista para fazer a revolução.
Auguste Comte cria uma Igreja com a crença na humanidade e na razão, na ciência e na técnica, onde se tenha liberdade humana, o que só é possível através da ordem e da razão.
Para ele, o conhecimento/humanidade passa por três estados. O primeiro, teológico, se dividindo em partes: animismo, sobrenatural, politeísmo e monoteísmo, onde a humanidade, para conhecer e explicar o mundo se utiliza de divindades em tudo que vêem e crêem. Depois passam todos para a crença em vários deuses e logo em seguida passam ao monoteísmo, que tudo acontece porque Deus quer. O segundo estado, intermediário ou Metafísico, onde as forças sobrenaturais são abandonadas e substituídas pelas forças naturais; não se usa deus, mas não se explica o mundo racionalmente; e, por fim, o terceiro estado, o positivismo, fixo e definitivo, com o uso da razão, sem procura da origem dos fatos, se utiliza da racionalidade e da observação, se usa de leis que regem as causas e fenômenos físicos, químicos, sociais, humanos, etc.
Os três estados são evolutivos e se baseiam em experiências sobre as leis naturais de Newton e Darwin sobre a evolução do universo e dos seres vivos.
A narrativa histórica é linear, porque existe uma versão única para toda a humanidade, para toda a terra e para todo o universo.
Quanto ao método científico, criticado por Machado de Assis, é porque todos aqueles que têm qualquer desvio são considerados loucos, segundo o livro “O Alienista”, ou seja, a ciência peca quando se torna um dogma a ser seguido. Precisamos ter claro o que pode ser útil em determinado tempo histórico e muitas vezes erramos por confiar demais naquilo que nos é apresentado.

TEORIA DA HISTÓRIA, PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA E HISTORIOGRAFIA

1 TEORIA DA HISTÓRIA, PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA E HISTORIOGRAFIA

Acreditamos que seja importante estudar História, porque ela é uma disciplina ou ciência que faz uma reflexão, uma análise sobre os fatos e acontecimentos que envolvem os seres humanos, bem como seu pensamento e suas ações enquanto ser, durante todos os tempos; é um ir e vir nas diversas concepções de sociedade. A história nos mostra como o homem viveu e vive, como se relaciona com a natureza, com ele mesmo e com os outros. É através da história que entendemos como a sociedade é formada, ou seja, seu estudo nos leva a ver como através dos tempos, o homem viveu.
Podemos partir do conceito de que a história se faz através da luta do ser humano pela sua sobrevivência e continuidade da espécie. A história da humanidade tem sido, através de todos os tempos, a história de luta de classes antagônicas que formam a sociedade, e, dos seres humanos, por uma vida melhor.
O historiador pode pesquisar quaisquer coisas, concretas ou abstratas. Ele deve produzir o conhecimento histórico, utilizando-se de fragmentos e versões enquanto fontes; mais do que provar, ele deve interpretar, questionar, criticar os fatos e acontecimentos históricos. O historiador não pode ser neutro, imparcial. Ele deve estar inserido em um lugar social para produzir a sua pesquisa. Precisa ter um compromisso social com as múltiplas vozes do passado, para que a história destas pessoas possam ser contadas e analisadas. O historiador tem que evitar o anacronismo, o etnocentrismo, etc.
A história é formada de fatos e acontecimentos. O fato histórico é a história narrada por alguém, enquanto acontecimento histórico é a história vivida. Os acontecimentos para virarem fatos históricos precisam ser narrados, documentados, etc. vários acontecimentos vão provavelmente culminar num fato histórico.
Por isso é que devemos estudar a história do nosso município, da região, do estado, do país e do mundo.

2 A AMPLIAÇÃO DO TEXTO COMO DOCUMENTO HISTÓRICO

Pretendemos através deste texto introduzir algumas questões acerca das fontes utilizadas pela História Tradicional e pela Nova História.
Sabemos que o papel dos historiadores é a busca constante de fontes que poderão ser analisadas para uma reflexão mais profunda, através dos argumentos utilizados pelos mesmos.
Já que a maioria das pesquisas realizadas pelos historiadores se transforma em texto, é preciso analisar com muita sabedoria e coerência as fontes utilizadas.
Enquanto os historiadores tradicionais se utilizam principalmente dos documentos oficiais para suas pesquisas, a Nova História amplia essas fontes, se baseando não só nos documentos oficiais, mas também em outras fontes.
As fontes oficiais utilizadas como principal fonte histórica pelos historiadores tradicionais ou positivistas são leis, artigos, portarias, código civil, feitos pelo Estado, Igreja, militares, ou seja, pela elite (reis, imperadores, generais, autoclero, banqueiros, industriais), por serem considerados verdadeiros, não sofrendo análise, questionamentos, interpretação.
É uma história vista de cima e nunca das pessoas “comuns”, mas mesmo assim tiveram uma importância fundamental. É apenas uma descrição ou narrativa dos acontecimentos, tal como eles aconteceram.
Em contrapartida, a Nova História ampliou as fontes de pesquisa, utilizando livros, literatura, jornais, artes, pinturas, história oral, entre outras, não descartando os documentos oficiais.
Tem a preocupação de analisar, questionar e interpretar não só a história dos vencedores, mas também dos “vencidos”, das “minorias”, tais como negros, índios, mulheres, crianças, operários(as), prostitutas, pobres, oprimidos, levando em consideração que toda atividade humana pode e deve ser pesquisada: tudo e todos(as) têm uma história.
É uma História vista de “baixo para cima”, das consideradas pessoas “comuns”; é uma análise dos fatos, das estruturas.
Como diria Marx: “Os filósofos até então tentaram interpretar o mundo, precisamos agora transformá-lo”. Para a Nova História, nossa posição não pode ser neutra, ela tem que ter um compromisso social com as múltiplas vozes do passado, dos “vencidos”, para que a história destas pessoas possa ser contada e analisada, para que possamos participar da transformação desta sociedade e utilizando-se desse estudo possamos sonhar com uma sociedade mais justa e solidária, onde todos e todas têm vez e voz, enfim, uma sociedade sem tantas diferenças entre os grupos e classes sociais.

3 TEORIA DA HISTÓRIA – ALGUNS CONCEITOS

3.1 Fontes: são documentos, portanto merecem a crítica. Os documentos podem ser orais, escritos, arqueológicos e visuais.

3.2 Construção da memória/causalidade: é a maneira que eu uso as fontes, qual o recorte, como construo o passado; se relaciona com o sentido. É como o historiador correlaciona os acontecimentos, as fontes escolhidas e seu objetivo na narrativa (fim e sentido).

3.3 Sentido: muitos historiadores (teóricos) não trabalham com esta questão antes da Modernidade. No entanto, ela é a forma como relaciono a construção da memória com o tempo, pois o historiador ao narrar uma história tende a dar um sentido para a mesma. As análises até hoje estão centradas no sentido linear, cíclico, dialético ou na opção de não dar um sentido (entender o movimento da história enquanto caos).
- Linear: não confundir com a cronologia. O sentido é linear quando a causalidade é única dentro da temporalidade (fato único).
- Dialético: vários fatos contraditórios que levam a mudanças dentro de uma temporalidade.
- Cíclico: fatos narrados que levam a um eterno retorno, aos tempos primordiais. Hoje está relacionado ao início, auge, queda, fim, início, auge,...
- Caos: geralmente o historiador/narrador faz esta opção, isto é, deixa claro que para ele(a) a história não tem sentido, quem colocará um sentido é quem está narrando.

3.4 Finalidade/fim: muitos historiadores (teóricos) também não trabalham com esta questão antes da Modernidade. No entanto, pode ser considerado como a finalidade da narrativa - mestra da vida, progresso, céu, socialismo, comunismo, liberalismo, etc..., como também optar por não dar um fim.
3.5 Fato X acontecimento: fato e acontecimento são distintos. Há vários acontecimentos durante o tempo. No entanto, para tornar-se um fato histórico precisa ser narrado (oralmente, escrito, fotografado, enfim “documentado”), senão pode perder-se no desenrolar do tempo. Com esta “divisão” anula-se a pretensa neutralidade histórica e a noção de verdade, pois quem narra (o fato) são homens e mulheres com visões de mundo próprias e inseridos numa cultura.

4 CONCEITOS DE HISTÓRIA

4.1 Livros Didáticos

“História é a ciência que estuda o passado para melhor compreender o presente e projetar para o futuro”.

“O objetivo da História não é apenas o de narrar fatos passados, mas buscar suas origens e suas conseqüências”.

"A História é a ciência que estuda o passado das sociedades humanas, buscando resgatar e compreender suas realizações econômicas, sociais, políticas, culturais. O estudo do passado humano permite-nos conhecer as motivações e os efeitos das transformações pelas quais passou a humanidade e fornece elementos que ajudam a explicar as sociedades atuais”.

“História é a ciência que estuda os acontecimentos do passado da humanidade com o objetivo de entender melhor o desenvolvimento dela no presente, ou seja, a história não é simples relato de fatos passados, mas análise dos acontecimentos que contribuíram para o surgimento de nossas atuais condições de vida”.

“A produção do conhecimento histórico é, na realidade, uma interpretação feita pelo historiador daquilo que aconteceu aos homens através do tempo”.

4.2 Historiadores e outros

“A História é o testemunho dos tempos, a luz da verdade, a mestra da vida, a mensageira dos dias que não voltarão”. Marco Túlio

“Esta é a exposição das informações de Heródoto de Halicarnasso, a fim de que os feitos dos homens, com o tempo, não se apaguem”. Heródoto

“A História é a ciência dos atos humanos do passado e dos vários fatores que neles influíram, vistos na sucessão temporal”. Besselar

“História é a ciência dos homens no tempo”. Marc Bloch

“A História não é uma ciência e não tem muito a esperar das ciências; ela não explica e não tem método: melhor ainda, a história, da qual muito se tem falado nesses últimos séculos, não existe”. Paul Veyne

“A História é a disciplina que se refere aos homens, a tantos homens quanto possível, a todos os homens do mundo enquanto se unem entre si em sociedade, e trabalham, lutam e se aperfeiçoam a si mesmos”. Antonio Gramsci

“O estudioso da História só consegue projetar uma ordem por ele elaborada, de forma ideal típica, sobre uma parcela delimitada do imenso caudal caótico que é a história. Esta projeção recai sobre uma parte finita e cambiante do imenso caudal caótico de acontecimentos que rolam através do tempo”. Max Weber

“História é uma criação (imagens e interpretações) que o historiador desloca para o passado”. Astor Diehl

“História é o estudo de como os dados são construídos e transformados...” Sidney Chaloub