AMIGOS DO PROFESSOR ZÉ WILSON

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O cargo e os encargos

O cargo e os encargos
9 de junho de 2011

Intitulado “PROFESSOR: único profissional que atende em grande grupo”, o comentário da professora Iara Schussler Nicolau, de Palmitos, oeste catarinense, merece destaque. Confira, porque é outra leitura, dentre milhares que aqui são transcritas, que merece reflexão:
“Atuo no ensino público estadual há 28 anos. Durante a semana 400 alunos frequentam minhas aulas de Língua Portuguesa e Estrangeira, são 14 turmas do ensino fundamental e médio. Em cada início de ano letivo planejo conteúdos, atividades, leituras, filmes, textos numa sistemática interdisciplinar. No ensino médio são três aulas semanais de Língua Portuguesa. Esta disciplina desdobra-se em quatro grandes eixos: literatura, leitura, interpretação/ gramática e redação (produção de diferentes tipos de textos). É preciso muito fôlego, saliva, dinamismo, criatividade, material, recursos em geral para dar conta de tudo. Os trabalhos anuais iniciam, os alunos esperam um professor preparado, uma aula dinâmica e interessante. E o docente acorda, olha-se no espelho e elabora um monólogo: “Vamos lá, você não pode parecer pálida, cansada, com olheiras, desanimada. Se passou a noite pensando em como consertar o sistema educacional, perdeu tempo. Não esqueça os óculos! Anime-se, a aposentadoria aos 25 anos é coisa do passado.” E além dos alunos, tem o sistema (quem assistiu ao filme Tropa de Elite sabe como qualificar o SISTEMA), e este é regido pelas leis. Segundo a Secretaria – o governo perto de você – as leis estão aí para ser cumpridas. E há também a tal da assiduidade (mais de três dias de atestado caracteriza a não assiduidade, watch out!). E a semana então transcorre, das 32 aulas ministradas, 08 (hora atividade) são dedicadas à leitura, preparação para a próxima semana, interação com colegas, avaliação de algum filme… Ao término dos estudos há as avaliações: produção de texto (2 por bimestre) aproximadamente 800 redações para corrigir coerência, coesão, ortografia, argumentação, exposição de ideias, criticidade etc, etc, etc. Ainda tem a avaliação da leitura da obra feita em cada bimestre, mais 400 trabalhos, e os exercícios de interpretação e gramática? Ah! Esses serão de múltipla escolha, mas preciso corrigi-los (mais 400). Esqueci da Literatura, vamos fazer discussão em grupos, na sala de aula… Enfim, ao fim de cada bimestre param em minhas mãos aproximadamente 1.600 trabalhos. E a recuperação para quem não alcançou a média? A lei é clara. Vamos marcar a recuperação. Explicar novamente o conteúdo, preparar nova avaliação e corrigir (duplamente). “Quando ler tudo isso? O que você faz depois das 22:30? E aos fins de semana ? Vamos lá! Meus alunos precisam de um retorno, afinal o ensino- aprendizagem é processual, dinâmico, recíproco. Durante as correções misturam-se distintos sintomas: (in)satisfação, prazer em ler um texto bem construído, náuseas, visão embaciada, preocupação, ansiedade, cansaço… Termina o bimestre, faz-se necessário deixar o diário “redondinho”, registrar faltas, atividades, conteúdos, notas parciais, fechar médias, registrar na tarjeta. “Ufa! Sobrevivi.”… E passados 28 anos de Dedicação Exclusiva, a grifar que esta não incide sobre o 12 A, caio na real de que o maior percentual dos 22 milhões vai para os cargos comissionados, que querem reduzir minha regência de classe, que não haverá mais prêmio castigo (denominação dada ao prêmio assiduidade por colegas) , nem prêmio de espécie alguma e que minhas especializações e cursos de capacitação estão sendo questionados. Será que ainda há alguém que precisa de esclarecimentos do porquê da mobilização dos docentes???? Professora Iara Mª Schussler Nicolau – Palmitos.”

http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira/?topo=67,2,18,,,67 - Acesso em 10/06/2011

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