AMIGOS DO PROFESSOR ZÉ WILSON

sábado, 21 de maio de 2011

A GREVE É LEGAL

Recebido de Bernardetti Ferrari

MOACIR PEREIRA

A greve é legal

Qualquer que seja a interpretação que se dê à decisão dos professores de protestar contra o governo, com a paralisação total das atividades, haverá uma voz mais forte que ressoará pelo Estado como poderoso alto-falante: A greve é legal. Legal, porque os professores da rede estadual de ensino suspendem o trabalho para exigir que o governo cumpra a lei. Aliás, uma norma jurídica de caráter federal, já vigente em vários estados brasileiros desde sua sanção, em 2008. Portanto, a pressão chega até tarde. Fica para o magistério e a sociedade a convicção de que os ex-governadores Luiz Henrique da Silveira e Leonel Pavan decidiram prorrogar o cumprimento da lei, impetrando ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal apenas para ganhar tempo. Agora, a bomba explode no colo de Raimundo Colombo e Eduardo Moreira. Se a motivação dos governadores dos seis estados que impetraram a Adin não foi protelatória, eles e os sucessores tinham a obrigação legal de contingenciar as verbas necessárias ao pagamento do benefício. Um dia ele teria que ser pago.

Quer dizer: os professores poderiam ter ido às ruas em 2008, mas, legalistas, decidiram aguardar o pronunciamento do Supremo. Agora, o governo vale-se de um argumento que pode ter fundamento jurídico, como sustenta o procurador-geral, Nelson Serpa. Mas não se sustenta politicamente num jardim de infância: a tese de que é preciso conhecer o inteiro teor do acórdão do Supremo para autorizar o pagamento do piso salarial. A lei federal já define de forma clara que piso é vencimento básico. O Supremo decidiu, também de maneira cristalina, que piso é vencimento e não remuneração. Mas, outra vez equivocado, o governo quer ganhar tempo com alegação que não cola.

SURPRESAS
A greve é legal se considerar o termo na expressão usual dada pelos jovens. Ficou na assembleia geral um cenário escancarado: os professores estão indo para a greve desolados, indignados, frustrados pelos baixos salários e pelo não pagamento do piso, sim! Mas também convencidos do direito e de peito aberto, quase felizes em levar a
bandeira para a população.

Esta greve, por todos os indicativos, não é do PT, do PSTU, do PSOL ou do PC do B, partidos de esquerda que outrora oxigenaram o movimento. Esta paralisação é do magistério catarinense. Professores calejados que nunca vieram a assembleia estavam no CentroSul; jovens que optaram pela educação sem se envolver com partido político marcaram presença.
Muita gente do DEM de Raimundo Colombo e do PMDB de Eduardo Moreira enfileirou-se na multidão que tomou a Praça XV. E, curioso: não eram palavras de ódio contra este ou aquele político. Mas de frustração contra os eleitos e, sobretudo, de indignação contra o governo como um todo.

O fato é que os professores parecem cansados de pedir melhores salários. Saíram derrotados de outras greves. Mas agora é diferente.
Eles estão abraçando a lei federal e a decisão do Supremo para terem melhores condições de trabalho. Décadas de dedicação a seus alunos sem o reconhecimento financeiro do Estado; a inexistência de um plano de carreira que incentive a crescente formação profissional; a impossibilidade de preparar melhor as atividades escolares; a absoluta
falta de condição financeira para comprar livros, ter acesso a jornais e revistas; e até o sonho de um mínimo de qualidade de vida para suas famílias. Sentimentos, constatações e aspirações que se fortalecem quando eles assistem, pelos meios de comunicação, a bilhões e bilhões de reais sumindo pelo ralo da corrupção, que se espalha como rastilho de pólvora diante da sociedade cada vez mais perplexa. Esta greve tem outro característica, e por isso tende a surpreender o governo no seu quinto mês de mandato.

Para os professores, a greve é superlegal. É, também, a última bala, o último recurso e a última esperança.

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