AMIGOS DO PROFESSOR ZÉ WILSON

quarta-feira, 6 de julho de 2011

OS ACAMPADOS DA PRAÇA

Os acampados da Praça
6 de julho de 2011

Idealismo, determinação, solidariedade, vocação, renúncia e espírito corporativo são algumas das características dos professores que há três semanas estão acampados em 10 pequenas barracas na Praça Tancredo Neves, ao lado do riacho e de um quiosque e bem próximo da Assembléia Legislativa, em Florianópolis.

Situação dramática pelas precárias condições de pernoite, principalmente. As noites gélidas deste rigoroso inverno em Florianópolis agravam o sofrimento destes professores, a maioria da região de Itajaí. Chega o vento sul e a sensação térmica pode chegar a zero grau. Sem fogo para aquecer.

Antigas e novas bandeiras motivam os acampados, homens e mulheres, jovens e já próximos da terceira idade. A realização do concurso de ingresso no magistério, promessa de todos os candidatos e calote de todos os governos. O pagamento do piso salarial na carreira, definição da lei federal e ratificação do Supremo, a principal razão da luta. A manutenção da regência de classe, conquista que vem do governo Jorge Bornhausen,e que o governo Colombo acaba de reduzir, acertando um tiro no peito dos integrantes do magistério.

Energia que vem de fora. Motoristas de táxi, outros colegas que levam sopa para esquentar o corpo e o ânimo dos 20 professores. Alimentos que chegam de doadores voluntários e visitas freqüentes de desconhecidos que levam palavras de conforto e de incentivo.

A higiene pessoal é um dos problemas. Executada graças a direção do Sesc, que cedeu as instalações do Ginásio coberto, e pela liberação da Assembléia Legislativa.

Depoimentos dramáticos repetem-se na chegada de um novo visitante. Uma professora com 31 anos de magistério, mestrado, 60 horas de aula por semana (três turnos, portanto), mostra o contra-cheque: R$ 2.200,00. Trabalha em duas escolas e tem 2 mil alunos. Desumano!

Outra colega intervém para mostrar a realidade da educação pública estadual. Trabalha na Escola Vitor Meirelles, que completará 100 anos em 2012. A Secretaria da Educação comprou aparelhos de ar condicionado para viabilizar aulas no verão quente. Os “splits” com 30 mil BTUs foram fixados na parede, mas não funcionam. Ligam o aparelho, cai a energia. A rede elétrica não suporta. Só em Itajaí? Negativo, exemplos iguais se espalham pelo Estado, garantem os grevistas.

A merenda escolar foi terceirizada. Só os alunos podem ser servidos. Alegação: professores recebem vale alimentação. Valor: R$ 6,00. Apelidado de “vale coxinha”. Paga, no máximo, uma média com leite e um sanduiche de queijo.

Nos relatos tristes há casos patéticos. Numa escola, um professor serviu-se da merenda que sobrava. Quando ia se alimentar foi flagrado pela Diretora da Escola. Que determinou na hora e na frente dos alunos que os alimentos fossem depositados no lixo. Perdeu-se a merenda e o professor continuou com fome. Pior: desmoralizado, humilhado perante seus próprios alunos.

Na maioria das escolas estaduais, os professores se alimentam com marmitas que levam de casa. Filas se multiplicam para uso do micro-ondas, quando existem. Os mais pobres valem-se dos antigos fogões “jacaré”.

Os 20 acampados vão hoje para a assembléia estadual que decidirá sobre o futuro da greve. Separaram-se de seus familiares, de suas casas e de suas comunidades por acreditarem em dias melhores para a educação catarinense. Independente de resultado, seu gesto de solidariedade, seu espírito de luta, as atitudes de renúncia e o companheirismo revelados nos dias chuvosos a espalhar lama nas barracas e noites friorentas a invadir o corpo, representavam alguns dos fatos marcantes desta histórica greve dos professores de Santa Catarina.

http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira/?topo=67,2,18,,,67 - Acesso em 06/07/2011.

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