AMIGOS DO PROFESSOR ZÉ WILSON

quarta-feira, 6 de julho de 2011

OS ACAMPADOS DA EDUCAÇÃO

Os acampados da Educação
6 de julho de 2011

A educação pública estadual de Santa Catarina nunca mais será a mesma. Pelo menos para os 47 professores que estão acampados há dez dias ao redor do prédio da Secretaria da Educação, na rua João Pinto, em Florianópolis. Mudou, também, para os próprios diretores e servidores da Secretaria que todos os dias passam pelo amistoso corredor polonês instalado no térreo, bem naentrada. É outra, igualmente, para os comerciantes e os clientes das lojas estabelecidas nas imediações.

O acampamento da Educação é outro registro inédito nesta histórica greve do magistério que hoje define o futuro na assembléia estadual da Passarela Nego Quirido.

Os relatos de professores e professores da rede estadual são comoventes. Serenos, determinados, conscientes, saudosos de suas familias e de suas comunidades, eles ali estão para fortalecer as aspirações gerais de uma educação melhor para as crianças de Santa Catarina. Alguns conseguem se blindar na reação de seus sentimentos, preservando-os na intimidade de seus dilemas profissionais. Outros não conseguem conter a dor da ausência.

– Pai, volta prá casa! - pediu Felipe, um ano e quatro meses, ao professor Luiz Fernando Ferrari, 41 anos, de Pinhalzinho, um dos acampados. Com 12 anos de magistério, leciona em tres escolas e tem 600 alunos. Seu salário é uma vergonha, sabendo-se que tem credenciais. Professor de História com pós graduação em Ciências Sociais. Quando relata o apelo do filho explode em lágrimas, saudoso e comovido, mas com esperanças de novos dias. O abraço imediato de seus colegas é o consolo do momento.

O professor Marcos Paulo de Barros, de Pouso Redondo, é outro lutador que lamenta as noites extremamente frias,dentro de uma das 12 pequenas barracas improvisadas. Tem uma filha de 13 anos. Numa das ligações, a menina informou que professores de sua escola estavam voltando a dar aulas. Indagada por sua professora, respondeu que continuaria sem aulas, mesmo com o retorno dos mestres.

– Pai, enquanto a greve não acabar não volto para a escola – afirmou.

O regime adoado pelos 47 voluntários é semelhante ao adotado pelos militares. Há hora para recolhimento: 22,00. É proibido fumar. Bebida alcoólica, nem pensar. Discussões partidárias vedadas a todos, ainda que alguns tenham suas preferências pessoais.

O Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações – Sinteel, com sede bem na frente dos acampados, liberou o “wireless” para facilitar as comunicações pela internet. Cinco senhas foram autorizadas para ligação de notebooks. Dali, eles enviam e recebem mensagens. Estão conectados com o Estado e o mundo. Levaram máquinas fotográficas e fimadores. Tem registros impressionantes. Como o violento vento sul, geladissimo, que arrancou duas barracas na noite de sábado. Ou manifestações de voluntários e visitantes.

O dono da loja “Caçula”, bem defronte o prédio, ofereceu equipamento de som para os acampados. Eles passaram a se comunicar com os servidores da Educação e com os pedestres que por ali transitavam. O sistema virou a “Rádio Piso”

O proprietário da Panificadora São Francisco, na esquina da Tiradentes com Nunes Machado, oferece alimentação com frequência. Fica a disposição para fornecer material. E, assim, os colaboradores vão se apresentando com doces, alimentos e livros para os acampados. Aí, incluídos, servidores da própria Secretaria da Educação.

Chuva, frio, vento sul, fome, saudade da familia, dos amigos, das escolas e das cidades em que vivem são os maiores problemas. Mas eles enfrentam sem reclamar. Todos, sem exceção, com depoimentos tranquilos, mas firmes em suas posições e convicçoes, na esperança de melhores dias para a educação catarinense.

Adversidades que enfrentam antes mesmo de iniciarem o plantão. Um ônibus que trazia o grupo do oeste teve congelamento do óleo de filtro. Ficou parado horas. Temperaturas baixissimas, sem ar condiconado e o corpo exposto, sem roupa quente adequada.

Entre as motivações, a música sempre presente, as amizades conquistadas no convívio das barracas e as visitas incentivadoras. Entre elas, numa noite congelada, da ministra Ideli Salvati, uma das principais lideranças do Sinte na décadas de 1990.

E um registro que também os anima: só manifestaçòes de apoio, carinho e solidariedade. Sem registrar uma única hostilidade.

http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira/?topo=67,2,18,,,67 - Acesso em 06/06/2011.

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