AMIGOS DO PROFESSOR ZÉ WILSON

sábado, 8 de agosto de 2009

HISTÓRIA DO BRASIL COLONIAL

RESENHA

LOPES, Roberto Luiz. História do Brasil colonial. 8 ed. Porto Alegre: Novo Século, 2001.

Para compreendermos a história do Brasil colonial, é necessário inseri-la e relacioná-la com contextos históricos mais amplos, como, por exemplo, a história de Portugal. A história do Brasil colonial tem uma linha do tempo, sendo que este período se estende de 1500 a 1822, da “descoberta” até a Independência do Brasil. Vamos discutir essa história nos baseando em quatro eixos principais: econômico, político, cultural e social.
Portugal, a partir do século XIV já é um país constituído, pois pôde delimitar suas fronteiras antes de outros países europeus, o que faz com que busque alternativas de sobrevivência diferente de outros países ainda vivendo o feudalismo. Não participa nesse instante de guerras e ao mesmo tempo, graças ao governo absolutista e a grupos de burgueses mercadores quer encontrar um caminho que o leve para as Índias.
Eles, que durante 800 anos foram conquistados por árabes, já dominavam algumas técnicas de navegação, como bússola, astrolábio, cartas náuticas e a própria Escola de Sagres, que fez com que os interessados no setor da navegação venham a discutir novas técnicas para a mesma. A Escola de Sagres não era uma instituição, e sim, um grupo de pessoas que discutiam as técnicas de navegação.
Outro ponto importante que leva os portugueses a partirem na frente para a expansão européia, é que eles não concordavam que os italianos de Gênova e Veneza controlassem o comércio de especiarias com o Oriente e como não podiam navegar pelo mar Mediterrâneo para comprarem os produtos de que necessitavam, eles, é claro, precisariam descobrir uma nova rota para o Oriente.
Os burgueses portugueses e a coroa Portuguesa haviam acumulado certo capital e por isso achavam que chegando ao Oriente por outro caminho ainda teriam mais lucros, o que de certa forma foi comprovado.
O sistema econômico da época, o mercantilismo, os leva a aventura e também porque a localização geográfica do país era bem a Oeste da Europa, diretamente em contato com o Oceano Atlântico.
Portugal já tinha conquistado algumas regiões como o Norte da África, algumas ilhas no Oceano Atlântico, como Açores e Madeira, e, por isso, se lança ao mar para completar seu sonho de comercializar diretamente com o Oriente.
A Espanha, em 1492, através do navegador italiano, Cristóvão Colombo, já tinha chegado a terras desconhecidas para eles, o que mais tarde vai chamar-se de continente americano ou América.
Portugal, através de seu navegador Pedro Álvares Cabral, em 1500 parte com uma esquadra e nesse mesmo ano chega a uma área ou território, mais tarde chamado Brasil.
Vemos com isso, que a vontade de aventurar-se no mar, o espírito empreendedor, o mercantilismo, a nação formada, caixa com sobras graças a burguesia comercial, fizeram com que Portugal realmente deixasse seu mundinho e partisse para a conquista de novas áreas, chegando assim ás Índias, ao Oriente tão sonhado e desejado, cobiçado e almejado.
Tudo isso contribuiu para a expansão européia e para chegarem ao Brasil.
Quanto ao descobrimento do Brasil, temos duas teorias, que falam sobre a chegada dos portugueses. Na escola tradicional encontramos apenas uma teoria, a do Acaso, ou seja, os portugueses em suas grandes viagens, numa delas, ao ter calmarias em determinados instantes, e, em outros momentos ventos fortes, vieram casualmente chegar ao Brasil.
Essa é a versão descrita pelos historiadores portugueses e que durante muito tempo, durante o período colonial brasileiro, da chegada dos portugueses até a Independência, em 1822, foi aceita co o a única verdade acerca do “descobrimento” do Brasil.
Mas, a partir do século XIX, com a Independência do Brasil e devido a necessidade de se criar uma nova história para a nação que está surgindo, historiadores brasileiros criam uma nova versão para o “descobrimento”, ou seja, a Teoria da Intencionalidade.
Nessa teoria, baseados em argumentos muito mais fortes, diz-se que Portugal já sabia da existência destas terras e por isso veio para cá.
Para esta teoria, os historiadores se baseiam que o Tratado de Tordesilhas dá pistas, pois Portugal pediu ao papa Alexandre VI que aumentasse o seu quinhão, ou seja, passar de 100 léguas marítimas, que eles tinham direito, para 370 léguas, a oeste, além da Ilha de Cabo Verde.
Além de tudo, baseiam-se em outros documentos, pois a Espanha já tinha chegado às Américas em 1492, antes de Portugal, o que poderia ajudá-los a dar pistas de como avançar mar a dentro.
Outra fonte importante, é a própria carta de caminha, que não fala em calmarias ou mesmo em tempestades que os afastassem da costa africana e os fizessem vir a bater com as naus aqui no Brasil, conforme a Teoria do Acaso quer demonstrar.
É claro, esses historiadores tem muitos motivos para descreverem e acreditarem na Teoria da Intencionalidade, pois como relatamos anteriormente, havia a necessidade de se criar uma história para o Brasil, que surgia como nação. É preciso se criar uma nova mentalidade, e tal como a pintura do quadro a Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles, essa Teoria da Intencionalidade vem ajudar para se construir uma história de um país livre, independente, uma nação.
Concordo, analisando os documentos, que a Teoria da Intencionalidade é a que mais parece verdadeira, e que a Teoria do Acaso só serviu para a época do Brasil colonial, para os portugueses que dominavam o Brasil se acharem os verdadeiros “donos” destas terras maravilhosas.

Quando da chegada dos europeus, leia-se portugueses, aqui no Brasil, eles encontraram uma grande quantidade de pessoas, os quais foram chamados de “índios” e o que sabemos destes povos é somente aquilo que os próprios portugueses escreveram, pois os indígenas aqui encontrados eram ágrafos, ou seja, não tinham a escrita em sua cultura. Eles não tinham necessidade da escrita, por isso não podemos chamá-los de analfabetos. Também não podemos falar índio, pois havia uma grande diversidade de povos, com culturas próprias, diferentes e organizações distintas.
O índio e uma expressão européia. Cada povo tem seu próprio nome e existiam muitas nações diferentes no Brasil pré-cabralino. A grande maioria desses povos foram exterminados, sendo um verdadeiro genocídio a empresa de conquista e dominação deste território. José de Anchieta dizia que nunca havia visto tanta gente “gastada”, ou seja, usada, morta, sacrifica, humilhada, espoliada, escravizada, massacrada.
Até hoje ainda não sabemos quantos índios ou mesmo povos indígenas viviam no Brasil na época da chegada dos portugueses, e, acredito que nunca conseguiremos descobrir, pois os europeus que realizaram esse massacre resolveram deixar tudo muito escondido. O que temos atualmente são apenas estatísticas sobre o número de indígenas que aqui viviam, bem como povos, culturas, línguas que falavam, etc.
Temos hoje, dois grandes grupos, os tupis e os guaranis, espalhados por todo o território nacional, vivendo as misérias deixadas pela exploração colonial, ainda em busca da terra sem males.
Uma das semelhanças que está presente nas sociedades indígenas encontradas pelos portugueses passa pela produção, economia e trabalho. Para os indígenas, o trabalho serve apenas para a sobrevivência, pois não necessitava acumular bens e nem angariar capital (na concepção européia). Por isso os europeus vão chamá-los de vadios, preguiçosos, omissos, indolentes, etc. Se trabalhava quando se queria e se necessitava. Para os europeus o trabalho serve para acumular capital, bens e riquezas (não quero dizer com isso que todos que todos que trabalham ficarão ricos ou vão acumular algum capital).
Algumas tribos indígenas praticavam o escambo, ou seja, a troca de produtos, mas sem a intenção comercial, apenas para a subsistência. Para a caça, a coleta e a pesca, todos tinham acesso livre. A terra era comunitária, bem como os produtos do trabalho, que era realizado conjuntamente.
O europeu acreditava que deveria “civilizar” os indígenas, através do eurocentrismo, ou seja, com o seu modo de pensar e agir. Os indígenas não eram cristãos, não tinham estado (segundo a concepção européia) e não estavam submetidos à lei alguma, por isso os portugueses os consideravam inferiores, como não-civilizados.
Sabemos claramente, que os indígenas tinham a sua própria organização social, diversas culturas, atividades políticas e religiosas e que viveram ou viveriam muito mais felizes sem a “ajudazinha” que os portugueses resolveram “dar” para torná-los “civilizados” e cristãos. A oratória é que leva um índio a ser chefe e ter mais poder. Por isso os idosos são extremamente valorizados e ouvidos e tem a função de serem educadores. A experiência acumulada pela vida os leva a serem líderes. A educação é pragmática, ou seja, tem que ter uma utilidade para o dia-a-dia, para resolver suas necessidades cotidianas.
Há uma diversidade lingüística de aproximadamente 340 línguas. A língua geral Tupi era entendida por uma grande maioria de tribos, mas mesmo assim, haviam diferenças de linguagem.
Um ponto muitíssimo importante para entendermos o Brasil colonial é exatamente como se organizou a administração política da colônia, quais foram os meios utilizados por Portugal para que se iniciasse o processo colonizador. Ainda considero importante analisar como se implantou no Brasil a administração política, como estava organizado o território colonial brasileiro e quais as tentativas de Portugal para colonizar o Brasil.
Para que possamos responder a essas muitas indagações, precisamos entender, que num primeiro momento, durante os trinta primeiros anos, após a chegada ao território que hoje conhecemos com o nome de Brasil, Portugal apenas envia a estas terras algumas expedições exploratórias, através das quais são implantadas algumas feitorias em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro. As feitorias eram entrepostos comerciais, utilizados para retirar os produtos naturais que a colônia oferecia. Essas feitorias eram ao longo do litoral, onde poucas pessoas moravam. Elas não conseguiam efetivar uma exploração mais sistemática e não conseguem povoar o litoral do Brasil. O pau-brasil foi insuficiente para a colonização e muitas feitorias faliram.
Outros países também exploraram o pau-brasil e contrabandeavam para a Europa.
O Brasil não oferece nesse primeiro momento algo mais frutífero para Portugal, pois os lucros obtidos através do comércio de produtos do Oriente eram maiores, mais vantajosos e muito mais rápidos.
A coroa portuguesa precisava investir muito dinheiro para cuidar de todo litoral brasileiro e não havia possibilidade de comércio com os povos aqui encontrados. A partir de 1530, a coroa passa a se interessar pelo Brasil, graças a não aceitação de outros países ao Tratado de Tordesilhas assinado em 1494 entre Portugal e Espanha. Principalmente a França e Holanda questionavam sobre o “Testamento de Adão”, se as terras encontradas haviam realmente sido divididas somente entre Portugal e Espanha, segundo o acordo realizado entre o papa Alexandre VI e esses dois países.
O medo de Portugal perder a posse das terras, bem como a diminuição dos lucros com o comércio do Oriente que nesse determinado momento já não rendiam tanto lucro, fizeram com que a coroa portuguesa voltasse sua atenção para o novo território. Existia na época a uti possiditis, ou seja, o dono de algo era aquele que tinha a posse e o uso, e o medo da coroa portuguesa de perder as terras encontradas, fez com que houvesse um maior interesse a partir de 1530. Portanto, a partir dessa data, começa haver uma estrutura política e administrativa através das capitanias hereditárias para colonizar o Brasil.

América, um estudo de caso

Resenha

SCHMIDT, Benito Bisso. A Espanha e a América no final do século XV: o descobrimento e a conquista. IN.________WASSERMAN, Cláudia (Coord.). História da América: cinco séculos. Porto Alegre: Editora da Universidade – UFRGS, 1996.

Resumo

Em 1992, vários autores escreveram sobre os quinhentos anos da América ou da chegada dos europeus a este belo continente, sendo que muitos não levaram em consideração que aqui já existiam povos com sua própria história, passando por um momento de transição e que na Europa, por diversos motivos, algumas coisas estavam acontecendo, dando origem às grandes navegações, que vão ser responsáveis neste momento pelo encontro de culturas tão diferentes entre si e ao mesmo tempo tão iguais, apresentando cada uma seus aspectos políticos, econômicos, culturais, sociais e religiosos.

Abstract

Em 1992, vários autores escreveram sobre os quinhentos anos da América ou da chegada dos europeus a este belo continente, sendo que muitos não levaram em consideração que aqui já existiam povos com sua própria história, passando por um momento de transição e que na Europa, por diversos motivos, algumas coisas estavam acontecendo, dando origem às grandes navegações, que vão ser responsáveis neste momento pelo encontro de culturas tão diferentes entre si e ao mesmo tempo tão iguais, apresentando cada uma seus aspectos políticos, econômicos, culturais, sociais e religiosos.

Palavras chave: Capitalismo; Desenvolvimento; Grandes navegações; Modos de produção; Transição.

Keys Word: Capitalism; Development; Great navigations; Ways of production; Transistion

Este material que nos propomos analisar, vem de encontro às necessidades já há muito existentes e que agora, feitas as discussões necessárias, é colocada a obra em nossas mãos para que possamos aprofundar nossos conhecimentos, de forma crítica, sobre a história do continente sul-americano.
Neste trabalho o professor Bisso elenca assuntos sobre a Espanha durante o período de transição do mundo feudal para o capitalismo, bem como a expansão marítimo-comercial, e as idéias e práticas mercantilistas, além do “processo de formação do Estado Absolutista espanhol”, destacando que mesmo sendo agrário, aristocrático e tradicional, o estado espanhol “permaneceu sensível ao grande comércio”, apostando na viagem de Colombo, “na expansão econômica, política e religiosa”, analisando, finalmente, “a vitória dos conquistadores sobre o vasto continente indígena”.
Podemos dizer que na apresentação deste trabalho há um certo respeito sobre o tempo e o local (espaço), pois se tenta partir da realidade ou o mais próximo da realidade de cada povo, só que podemos fazer já de início uma certa crítica, pois como podemos realmente saber o que é a realidade depois de tanto tempo afastado? Será que podemos dizer que o trabalho parte do momento em que a América está “entrando para a história”?
Fazer uma afirmação sobre esse tema seria negar a história, bem como a historicidade do povo nativo ou pré-colombiano, ou mesmo dizer que eles só passaram a ter história a partir do momento em que tem contato com os europeus.
É importante relembrar que este trabalho faz parte de muitos outros que foram produzidos, graças a discussão criada sobre os quinhentos anos da América, onde, mais uma vez, podemos tecer críticas e comentários. Os quinhentos anos são da chegada dos europeus ao continente e não do “descobrimento” deste continente, pois como já foi discutido muitas vezes, descobridor seria aquele que chega primeiro. Tenho certeza de que o europeu, com sua cultura e conhecimento, que tanto alardeou, não pode dizer-se descobridor, pois os povos indígenas já estavam aqui quando da sua chegada.
Ainda podemos questionar sobre a forma com que o autor tenta levar a sua discussão, pois quando trata da Europa, que passa por uma transição do feudalismo para o capitalismo, nos mostra que há uma orientação marxista, pois me parece que se concentra e se mostra, de certa forma, preocupado com o aspecto ou a orientação econômica decadente em relação ao que acontecia com a Península Ibérica, o que seria o trampolim para uma nova sociedade. Dessa forma podemos dizer que trabalha com a teoria dos modos de produção.
Além do que já foi abordado, poderíamos tratar sobre a evolução das grandes navegações, dentro do processo de expansão marítimo-comercial europeu, pois a chegada a América faz parte desse contexto expansionista e por busca de novos mercados. Também é importante salientar a procura de metais preciosos, pois na Europa, já havia uma certa escassez deste produto, além de falarmos de um certo desenvolvimento nas técnicas de navegação, tanto da Espanha quanto de Portugal, principalmente após os estudos de cartógrafos, navegadores, astrônomos e aventureiros, que se reuniam na casa de Dom Henrique, em Sagres, para discutir sobre navegações.
Podemos dizer ainda, que o velho Marx quando estuda a formação das comunidades desde as mais primitivas até as mais complexas, vê uma sociedade hierarquizada, em conflito. Isto poderia acontecer ou estava acontecendo, na Europa e na América, pois no século XV, todos estão vivendo um aspecto de transição, de mudança ao que foram bem pouco tempo atrás.
Outro ponto muito importante e que deve ser levado em consideração, é o aspecto religioso. Onde entra a religião ou expressões religiosas em tudo isto? Segundo Marx, a religião tem um poder de função que vai dar a essência da manutenção da sociedade, servindo como uma anestesia.
Podemos dizer que a estrutura está baseada na religiosidade, tanto na Europa quanto na América. Quando falamos de Europa, ela vai legitimar a conquista da América, inclusive com o uso da violência, da brutalidade e da incoerência. Quando falamos da América, ela vai corroborar com a ocupação a partir do momento em que acreditamos que os povos indígenas já esperavam pela volta de seus deuses, que chegariam do grande lago salgado. De qualquer forma, a religião esteve presente durante a conquista e a destruição dos povos americanos ou pré-colombianos.
Ainda podemos levar em consideração que a América do século XV não tem um sistema de produção totalizante, ou seja, os mais diversos grupos indígenas que aqui vivem ou viviam, tem cada um uma forma de tratar da economia, da política, da vida em sociedade, com culturas e modos de viver diferentes, enquanto na Europa, salvaguardando os aspectos de cada povo ou nação, o comércio ou mesmo o mercantilismo, é parte integrante de algumas nações, Estados Nacionais ou monarquias centralizadas, como a Espanha, Portugal, França, Inglaterra, a região de Flandres, etc.
Ao final do nosso estudo, cabe salientar que os povos indígenas, talvez não tenham sido tão passivos durante todo o processo de conquista, quanto alguns textos ou autores tentam nos fazer acreditar, pois eles também foram agentes de sua história, bem como ofereceram muitas formas de resistência contra a invasão, das mais diversas formas, seja colaborando ou fazendo guerra contra os europeus, seja coletiva ou individualmente, o que já é uma outra história.

O paradigma religioso no movimento Renascentista tendo como análise as abordagens feitas nos livros didáticos: Nova História Crítica do autor Mário Sc

RESUMO

O referido artigo tem por objetivo fazer uma pequena análise do uso do livro didático de história pelo professor e se estes se enquadram no que pede a Proposta Curricular de Santa Catarina e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Para tal trabalho foi usado somente o que se refere ao período Renascentista e as mudanças na religião em comparação com a Idade Média. Os livros observados foram dos autores Mário Furley Schmidt e de Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, ambos do Ensino Médio.

Palvras-chave: Aluno. História. LDB. Livro didático. PCN’s. Professor.

Hoje, em pleno ano de 2005 do século XXI, cabe a nós educadores ou futuros educadores uma “pequena-grande” pergunta que com certeza terá uma resposta não muito satisfatória a nós mesmos, mas, que porém devemos encarar não somente como desafio, mas também como obrigação de uma mudança a qual cabe principalmente a nós que estamos saindo “amanhã” da academia com toda a força e vontade como a que a de um soldado em seu primeiro dia no campo de batalha. A pergunta: nos anos 80, os conhecimentos escolares passaram a ser questionados e redefinidos por reformas curriculares. Até que ponto tais questionamentos e definições foram assimilados e aplicados pelos professores dentro da sala de aula? E mais, até que ponto o livro didático mudou em suas formas de apresentação os fatos e acontecimentos a serem estudados?
O primeiro questionamento não é de difícil resposta, pois fomos nós mesmos, os alunos que vimos e ouvimos por horas e anos os professores pré-80 nos fazendo decorar questionários, fazer resumos, ou melhor, cópias, que não nos levavam a nada, a não ser passar de uma série a outra, sem a mínima crítica de si ou de sua sociedade. O triste é pensar que muitos destes professores ainda não se aposentaram; ou, se isto aconteceu, optaram por continuar dentro da sala de aula, transformando-se em verdadeiros “dinossauros da educação” e meros repetidores de frases e datas decoradas.
O bom é que nada é eterno ou dura para sempre, tudo, portanto, muda e o que devemos agora é:
Pensar sobre a possibilidade educativa da história, ou seja, a história como saber disciplinar que tem um papel fundamental na formação da consciência histórica do homem, sujeito de uma sociedade marcada por diferenças e desigualdades múltiplas. Requer assumir o ofício de professor de história como uma forma de luta política e cultural. A relação ensino-aprendizagem deva ser um convite e um desafio para alunos e professores cruzarem ou mesmo subverterem as fronteiras impostas entre as diferentes culturas e grupos sociais, entre a teoria e a política, a política e o cotidiano, a história, a arte e a vida.[1]
O segundo questionamento nos trás uma resposta um pouco mais animadora, mas que levanta outra questão que cada um terá a sua própria resposta sem que precise esta ser exposta aqui: até que ponto adianta uma metralhadora de última geração nas mãos de um soldado não treinado ou que não quer aprender a usá-la? Ou seja, deixando a metáfora de lado, adianta um bom livro didático nas mãos de um “dinossauro pré-80” que nunca procurou nada além dos conteúdos prontos desses mesmo livros, não tentando fazer um cruzamento de informações?
É claro, não estamos aqui generalizando e colocando todos em uma vala comum, pois existem vários profissionais que foram verdadeiras fontes de inspiração e que nos fizeram um dia sonhar com academia de História e isto, diga-se de passagem, sem um bom livro ou sem nenhum livro pelo qual poderiam guiar suas aulas. Mas estes lembravam que a biblioteca desde a antiguidade é um espaço público e de acesso a todos. Foram estes que colocaram lá na LDB que:
O conhecimento histórico é uma construção de vários sujeitos, permitindo uma prática educativa que vincule o conhecimento teórico e as questões da vida real, co cotidiano, ampliando a compreensão do sujeito histórico. É processo de produção científica e interdisciplinar.[2]
Tudo que se escreveu ou se escreve não é inventado aleatoriamente, mas usado o que foi produzido socialmente e culturalmente com o passar dos anos nas mais diversas sociedades, desde o surgimento do ser humano até mos dias atuais.
Os livros didáticos pesquisados de Mário Schmidt (2000) e de Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo (2002), nos trazem informações ricas e com detalhes sobre o tema Renascimento, mesmo tendo abordagens diferentes sobre o assunto.
O livro Nova História Crítica de Mário Schmidt, volume único do Ensino Médio deixa transparecer uma ideologia marxista calcada em um discurso extremamente crítico e que leva o leitor a questionar sobre o modo em que se apresentam os textos nele descritos. Ambos autores demonstram preocupação em mostrar o quanto as mentalidades estavam mudando no período do Renascimento, daí o “aparecimento de novas visões de política, ciência, moral e religião”.
O quesito religião talvez foi o que mais mudou em comparação com o período anterior, ou seja, Vicentino:
O Renascimento pode ser caracterizado como uma tendência cultural laica (isto é, não eclesiástica), racional e científica, que se estendeu do século XIV ao XVI. Inspirando-se na cultura Greco-romana, rejeitava os valores feudais a ponto de o período medieval ser chamado de a “Idade das Trevas”. Para os homens renascentistas, a época obscura seria abolida por um “renascimento” cultural posterior, justamente o momento em que estavam vivendo[3]. (VICENTINO, 2002).
O que os autores Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo não fizeram em comparação com Mário Schmidt foi a leitura das obras sacras com as obras feitas na Idade Média, assim como também não argumentaram que a Idade Média não é um período de trevas। Schmidt mostra uma preocupação em detalhar as diferenças entre um período e outro, coisa que os autores do livro História para o Ensino Médio: história geral e do Brasil, não fazem, detendo-se somente na análise das obras no Movimento Renascentista propriamente dito। Schmidt faz até um quadro comparativo entre as duas visões de mundo, a Medieval e a Renascentista, o que ao nosso ver, é de grande valia e que facilita o entendimento dos alunos e professores que forem usá-lo.

Visão de mundo medieval
Visão de mundo Renascentista

Teocentrismo
Antropocentrismo
A verdade está na Bíblia, na tradição e na autoridade da Igreja Católica.
A verdade é obtida pela experimentação, pela observação e pela razão.
A vida material é pouco importante. A vida dedicada à religião é tudo. Afinal a realidade é explicada somente pela vontade de Deus.
A vida terrena e material também é importante. Deve-se explicar a realidade terrestre pelo que acontece aqui na terra.
Conformismo: todas as mudanças são contrárias à vontade de Deus.
O homem pode e deve progredir, tanto material como culturalmente.
Conhecer para contemplar a realidade.
Conhecer para transformar a natureza.
A natureza é fonte de pecado e deve-se ficar afastado de suas tentações.
A natureza é maravilhosa e o homem faz parte dela.
Ascetismo: vida simples e afastada dos prazeres e desejos.
Hedonismo: valorização do corpo e dos prazeres materiais e intelectuais.
Filosofia Escolástica
Filosofia Renascentista

Adaptação que São Tomás de Aquino fez do pensamento de Aristóteles.
Contestação da escolástica. Busca de novas verdades, questionando dogmas tradicionais.
Dogmatismo: aceita certas “verdades” sem discutir.
Separação entre fé e razão: uma cuida do céu e outra da terra.
A razão é serva da fé.
Revalorização do estudo dos clássicos greco-romanos.
FONTE: SCHMIDT, Mário Furley। Nova História Crítica: moderna e contemporânea: Ensino Médio। São Paulo: Nova Geração, 2000. P. 46.
Da análise feita aqui, acreditamos que não cabe elogiar uma obra e desmerecer outra। Ambas são de grande valia, assim como aquele velho livro usado em um determinado tempo histórico – na ditadura militar, por exemplo – também o é. O que tem que ser analisado e criticado é o uso que o profissional de história faz desse material, cruzando esse material com suas próprias pesquisas ou conforme escrito nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
Considera-se que o saber histórico escolar reelabora o conhecimento produzido no campo das pesquisas dos historiadores e especialistas do campo das Ciências Humanas, selecionando e se apropriando em parte dos resultados acadêmicos, articulando-os de acordo com seus objetivos। Nesse processo de re-elaboração, agrega-se um conjunto de “representações sociais” do mundo e da história, produzidos por professores e alunos। As “representações sociais” são constituídas pela vivência dos alunos e professores, que adquirem conhecimentos dinâmicos provenientes de várias fontes de informação veiculadas pela comunidade e pelos meios de comunicação [4] (PCNs, 2002).
Contudo, podemos concluir o seguinte: não existe livro didático ruim ou bom. O que existe são livros de tópicos para melhor guiar o docente e é este que vai fazer do que está em suas mãos um bom ou mau uso dessa fonte histórica. Consideramos que o livro didático deve e pode ser usado em sala de aula, desde que o professor saiba o caminho que deve trilhar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FONSECA, Selva G. Didática e prática do ensino de história. 2 ed. São Paulo: Papirus, 2003.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: história e geografia/Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3 ed. Brasília: A Secretaria, 2001, 166p.
Santa Catarina. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Diretrizes 3: organização da prática escolar na educação básica: conceitos científicos essenciais, competências e habilidade. Florianópolis: Diretoria de Ensino Fundamental/Diretoria de Ensino Médio, 2001, 130 p.
SCHMIDT, Mário Furley. Nova História Crítica: moderna e contemporânea: Ensino Médio. São Paulo: Nova Geração, 2000. P. 46.
SILVA, Marco A. Repensando a história. 6 ed. São Paulo: Marco Zero, s/d.
VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para o Ensino Médio: história geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2002.

[1] FONSECA, Selva G. Didática e prática do ensino de história. 2 ed. São Paulo: Papirus, 2003.
[2] Santa Catarina. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Diretrizes 3: organização da prática escolar na educação básica: conceitos científicos essenciais, competências e habilidade. Florianópolis: Diretoria de Ensino Fundamental/Diretoria de Ensino Médio, 2001, 130 p.
[3] VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para o Ensino Médio: história geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2002.
[4] Parâmetros Curriculares Nacionais: história e geografia/Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3 ed. Brasília: A Secretaria, 2001, 166p.